segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

Tempo feio no São Miguel

Trovões e relâmpagos prenunciam a manhã,

Um lençol negro se destapa no horizonte,

A gadaria são pontos alvos na escuridão,

Oigale-te chuva braba não froxa faz três ontonte.

Faz este paisano recorre das oração.



Várzeas e restingas alagadas

O ibicuí mostra pra o campo sua imponência,

Minha tubiana não troteia mais no torrão,

Espinilhos e figueiras forcejam com sua essência

São abas largas para o abrigo deste rincão.



Quero-queros são vozes perante o silêncio,

Fazem contraponto com o canto das cigarras.

Um filme passa na retina deste campeiro,

Mês passado já pelei mais de cinco garras

Deus me ajude que agüente este janeiro.



Este verão chuvoso que não para faz seis dias

Encharca o poncho e o horizonte de flexilhas

Faz chorar a alma deste vivente incréu

Renasce esperança no rincão de São Miguel.



A chuva acalma e o mormaço toma conta

É a regra antiga dos verões desta fronteira

Até parece que o mundo todo silencia

Só resta o ronco da tourada caborteira

Abrindo cova no desdobrar de cada dia.



Meu poncho amigo sempre minha companhia

Sabe como ninguém das volteadas de uma enchente

Teve comigo momentos tristes e de alegrias

Da rodada mais feia deste vivente

À ternura plena de uma vaca de cria.




Jorge Abreu

26.12.2011

Alegrete RS

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