Trovões e relâmpagos prenunciam a manhã,
Um lençol negro se destapa no horizonte,
A gadaria são pontos alvos na escuridão,
Oigale-te chuva braba não froxa faz três ontonte.
Faz este paisano recorre das oração.
Várzeas e restingas alagadas
O ibicuí mostra pra o campo sua imponência,
Minha tubiana não troteia mais no torrão,
Espinilhos e figueiras forcejam com sua essência
São abas largas para o abrigo deste rincão.
Quero-queros são vozes perante o silêncio,
Fazem contraponto com o canto das cigarras.
Um filme passa na retina deste campeiro,
Mês passado já pelei mais de cinco garras
Deus me ajude que agüente este janeiro.
Este verão chuvoso que não para faz seis dias
Encharca o poncho e o horizonte de flexilhas
Faz chorar a alma deste vivente incréu
Renasce esperança no rincão de São Miguel.
A chuva acalma e o mormaço toma conta
É a regra antiga dos verões desta fronteira
Até parece que o mundo todo silencia
Só resta o ronco da tourada caborteira
Abrindo cova no desdobrar de cada dia.
Meu poncho amigo sempre minha companhia
Sabe como ninguém das volteadas de uma enchente
Teve comigo momentos tristes e de alegrias
Da rodada mais feia deste vivente
À ternura plena de uma vaca de cria.
Jorge Abreu
26.12.2011
Alegrete RS
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